sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Trail Serra da Freita

O porquê?

Há quem me chame de tolinho, maluco, masoquista entre outros nomes (designemos de “insultos”). No entanto e de forma natural, gosto de os ouvir, por saber interpretar o seu verdadeiro significado. Não pelas distâncias, pois ainda não são das maiores, mas sim pelo que faço sem obter nada em troca à excepção da satisfação/diversão e superação pessoal ao desafiar-me a mim e aquilo que vou encontrando ao longo deste percurso. Percurso esse que para muitas pessoas é incompreensível, ou não querem saber o porquê de fazer o que fazemos.
Agradeço assim esses “insultos”, que sei que são amigáveis, mas que tanto contribuem para dar mais alento e vontade de fazer aquilo que tanto gosto.
Não é um desabafo, mas sim um agradecimento a estes aplausos (”insultos”).

Movido apenas pelo desafio, as tréguas tinham que ser feitas com a minha vizinha. A Freita deixou-me de rastos no nosso último encontro. Quando pensava que estava a correr numa passadeira vermelha em piso plano, eis que a serra surge em todo o seu esplendor me tira a carpete e mostra o seu verdadeiro terreno implacável. Deitou-me abaixo, mas ensinou-me a levantar.
Regresso, porque a Freita é um local que gosto, e pretendo conhecer mais e melhor.

Sabia que era o berço do trail em Portugal, e que era desafiante, não estivéssemos a falar da Freita. Contudo para ajuizar as coisas e como não seria de esperar outra coisa a prova mais curta (28 KM) seria a minha escolha. As longas e/ou ultras terão que aguardar para o futuro, pois ainda não me sinto com preparação para tal.


A Prova

A prova mais curta foi a prova com mais criticas que fui ouvindo. Desde o percurso, abastecimentos, organização, … enfim uma data de situações.
A distância dos 28 KM era a mais apupada, principalmente pelo percurso. Seriam cerca de 9 quilómetros a subir por um trajecto que de interessante não tinha nada até ao cimo da serra, correr 10 KM no alto e descida pelo mesmo local onde inicialmente subimos. Ou seja, isto realmente dá vontade de dar uma nega logo à partida, tendo em conta o valor da inscrição na prova, e o que esta representa. A prova em si seria apenas uma visita rápida à Freita e vamos embora, e um trajecto que não vislumbre um pouco das excelentes paisagens que este local proporciona.
Contudo, e como gosto de ter a minha própria experiência e opinião, seria a minha segunda travessia pela Freita, desta vez pelo lado de Arouca, local onde se dá a partida.

Cheguei a Arouca com bastante tempo de antecedência. Tempo para levantar o dorsal, preparar-me, aquecer e juntar à festa. Festa essa que presenciei pela primeira vez. Num pavilhão onde seria o palco da meta, respirava-se trail running. Muita gente e alguns balcões com vários artigos à venda que saltavam à vista a quem ali passava. Já os preços, esses conseguiam afastar qualquer interessado.
A hora da partida estava quase a chegar, e ainda teria que ir para o exterior do pavilhão. Às 9h em ponto deu-se o arranque e sem que demorasse muito já estávamos todos a subir. Inicio feito com ligeira inclinação em estrada, mas nada que incomodasse nem fizesse abrandar todos aqueles atletas que pensavam subir a Freita. Ao fim de aproximadamente 1,5 KM temos a os primeiros trilhos, com ainda bastante confusão, aos poucos fomos avançando e dispersando.
A travessia da estrada seria inevitável já que ziguezagueava a encosta que “trepávamos”.

Mais uma vez tive a companhia do meu primo que já várias vezes referi aqui. Tendo ele já participado em edições anteriores, conhecia o percurso, mas rapidamente começou a estranhar os locais que íamos atravessando. Isto tudo é normal, visto que a organização felizmente e finalmente lembrou-se de o alterar, ou pelo menos a subida inicial não coincidia com o final.
Diga-se de passagem, que foi uma escolha acertada.
Trilhos bem mais interessantes não sendo muito técnicos na fase inicial, que aos poucos foi dificultando.

Esta distância seria o meu recorde até então em provas de trail. A gestão teria que ser feita desde o tiro de partida. Subida feita sem grandes esforços e de forma a poder usufruir de alguns trilhos mais técnicos e alguns single tracks. A meio da subida existe uma pequena descida que conseguia enganar os mais desatentos, com o que ainda faltava até ao topo.
A Freita deste lado é totalmente o oposto do lado onde vivo. Se na minha localidade a serra tem uma vegetação bem junta ao solo, e com árvores bastante dispersas excluindo quase a sombra, aqui não há falta destas. Bastantes árvores até ao topo. Apenas algumas zonas em que conseguíamos ter uma vista mais privilegiada e conseguir vislumbrar as bonitas paisagens à nossa volta, inclusive Arouca.
Já no cimo, o habitual arvoredo desaparece e surge a vegetação mais rasteira com algumas pedras.


Chegando ao primeiro abastecimento, aproveito para me recompor e hidratar bem. Estava bastante calor e não queria acusar uma nova desidratação. Aos poucos apercebo-me de uns comentários entre os voluntários e atletas de que algo não está a correr como se esperava. Teoricamente os primeiros atletas ainda não tinham passado naquele abastecimento. O que me pareceu algo confuso. Mas como não tinha ouvido a conversa desde o inicio, ignorei e continuei a minha viagem. Por um trajecto que não gosto particularmente devido ao tipo de terreno.
A típica vegetação desta serra aliada às bastantes pedras que a compõem, tornavam aquele percurso incerto escondendo por vezes alguns buracos, provocando facilmente uma queda e/ou uma entorse.

Com isto, optei por ir mais à cautela e sem grandes euforias, o que fez com que vários atletas fossem aproximando e continuavam com a mesma conversa do abastecimento. Ora, qual não é o meu espanto que vou vendo atletas a vir em direcção contrária e vou assimilando toda aquela conversa e finalmente entendi toda aquela algazarra. Significava que aquela prova estava arruinada.
Sensivelmente ao quilometro 8/9 onde tem um pequeno cruzamento do percurso da subida inicial e da descida final, existe um desvio em que uma voluntária teria que trocar uma fita para indicar o caminho certo a percorrer. O sucedido, foi que os primeiros atletas seguiram pelo local que deveríamos descer, pouco depois colocou a fita no local certo o que fez com que os restantes seguissem pelo trilho certo.
Resumindo, uma grande confusão que se alastrou rapidamente, e que fez com que os elementos da organização quase participassem na prova. Visto andarem a correr de um lado para o outro e com telefonemas para ver como poderiam resolver o problema. Enfim, confusão implantada devido a um pequeno erro que se tornou enorme (nota: esta prova pertencia ao campeonato nacional de trail).


Sem grandes lamentações, pois a mim não me impediu de prosseguir e divertir continuei o meu caminho que ainda faltava bastante.
Num pequeno estradão bem plano deu para dar às pernas e soltar um pouco o atleta de estrada. A sombra no cimo era pouca ou inexistente em grande parte do percurso, então todos os riachos eram fonte de refresco. Inclusive um pequeno mergulho num dos muitos lagos que encontramos no cimo desta serra.
Sim um pequeno banho, apenas faltava um sabonete, refresquei as pernas e sigo viagem em direcção à aldeia Albergaria da Serra entre PR’s que já conhecia de quando era mais miúdo.
Aos poucos o terreno tornava-se mais acidentado com calçada feita em pedra e o espaço mais apertado, o que obrigava alguma agilidade e corrida. Num espaço que era dedicado a algumas rochas, teríamos que escolher o melhor caminho e evitar grandes desgastes e pior ainda, quedas. Para aliviar aquela empreitada toda atravessamos uma pequena ponte, mas temos continuidade de piso empedrado, mas estreito o que uma vez mais obrigava a correr, ou então era obrigado a encostar para deixar passar os mais apressados.
Cruzamento em algumas aldeias, e seguimos por PRs para último abastecimento num parque de merendas junto ao parque de campismo do Merujal.

Curiosamente, e sem novidade nenhuma, o tema de conversa era a confusão que houve na prova devido à falha que houve. Aos poucos começaram a comentar que a prova estava cancelada e que muitos até ficavam por ali. Um descontentamento geral e desalento que se foi espalhando. Curiosamente penso ter visto vários a desistir naquela fase e a ir de carro para o final, outros a continuarem, mas em modo de treino, ou diziam eles. O que sei é que queria comer alguma coisa e devido ao grande aglomerar de pessoas ali estava uma confusão danada, e como não estava para competir iria continuar fosse como fosse.

Entendo e respeito, que para muitos toda esta situação seja chata e não seja admissível um erro destes, principalmente pelo que a prova representa. Mas também têm que entender que errar é humano e por um lapso de uma pessoa, que foi fulcral é certo, não se pode culpar a organização toda. Isto devido aos insultos e ofensas à entidade responsável pela prova.

Enfim desabafo feito, e após alguns minutos de paragem e fugindo da confusão toda continuo com o meu primo para seguirmos em direcção à descida final.
O percurso aqui foi de todo desinteressante, mesmo até ao final tirando alguns pequenos locais. Seguimos em direcção às eólicas que se encontravam junto ao primeiro abastecimento e desviamos para iniciar a longa descida de ca. 10 quilómetros.
Pouco depois de iniciarmos a descida em conversa de toda aquela confusão com o meu primo cruzamos no local onde se sucedeu toda aquela situação e onde ainda se encontrava a rapariga lamentou o sucedido. Sem problemas da minha parte.


Como disse anteriormente esta descida era sem grande interesse, onde realmente entendo o descontentamento de outras edições em que a subida e descida por este local se tornava bastante maçador e desinteressante.
Já em solo arouquense, temos alguns quilómetros em estrada que nos levam até à meta.
Subindo umas escadas e entrar no pavilhão e cruzar o pórtico final com o sabor de superação, e objectivo concluído.

Obviamente que ao ler o relato, subentende-se que foi um desastre e está cheia de problemas. No entanto não a vejo assim de modo geral. Houve um erro que condicionou tudo, e que fez com que muitos perdessem a credibilidade da organização. Acabo por me repetir, mas um erro de uma pessoa, não responsabiliza toda a entidade que trabalhou para aquele dia. Mas resumindo, é uma prova que tem tudo para conseguir ser bem mais sucedida do que o que já o é. Estamos a falar da Serra da Freita e trilhos não faltam, e locais para explorar. Tem uma imensidão de alternativas para se fazer desta prova uma excelente referência. Felizmente os abastecimentos tinham o suficiente para a prova, e arregaçaram as mangas para dar um inicio de prova diferente e bem mais interessante que as edições anteriores. Falta mesmo arranjar um final (descida) diferente com algo que demonstre bem melhor qualidade que aquele. Ou então uma prova diferente em que o local de partida e chegada não coincida, por exemplo.

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